sexta-feira, 7 de agosto de 2015

HERÓIS E VILÕES

O jornal Correio Braziliense, em sua edição de 31.05.2013, traz matéria sobre pesquisa  desenvolvida por um “consórcio de pesquisadores” liderados por James Liu, da Victoria University of Wellington, na Nova Zelândia.
A pesquisa, que segundo a matéria foi publicada pela revista PloS One, consistiu em submeter a avaliação de 6727 estudantes universitários, de 37 países diferentes (entre eles o Brasil),” o caráter de 40 grandes  figuras históricas”.
A matéria do CB não fornece muitos dados sobre a pesquisa (número de estudantes por país, número de figuras históricas por continente, quantos países de cada continente foram pesquisados). Trata mais os resultados, classificando os analisados em Heróis – os “do bem” – e Vilões – os “do mal”.
Independente do viés maniqueísta mais comum as histórias infantis, a pesquisa colca algumas questões interessantes, seja pela metodologia ou pelo seu conteúdo mesmo.
A – O resultado apontou como “Heróis”: 1) Albert Einstein; 2) Madre Tereza de Calcutá; 3) Mahatma Gandhi; Martin Luther King; 5) Isaac Newtom. Como “Vilões”:  1) Adolf Hitler; 2) Osama Bin Laden; 3) Saddam Hussein; 4) George W. Bush; 5) Joseph Stalin.
A primeira curiosidade é que, “heróis” e “vilões”, a exceção  de Newton, são todos do século XX, isto é, são figuras dos tempos modernos, onde os registros históricos, documentais e iconográficos são mais abundantes.
Chama a atenção que, na lista de “heróis”, o segundo, terceiro e quarto sejam religiosos, sendo que Gandhi e Luther King desempenharam papéis políticos fundamentais em seus países, tendo sido ambos assassinados em razão da defesa que faziam de suas idéias, mesmo que Gandhi tenha se destacado como um pacifista convicto e militante, assim como Luther King também fosse contra a violência. E madre Teresa uma destacada lutadora para amenizar a miséria. Quer dizer, no “conflito” ciência X religião esta venceu por 3x2. Em pleno séc. XXI, numa pesquisa feita com universitários, é um resultado surpreendente.
É importante notar que os religiosos que foram destacados eram todos profundamente comprometidos com as lutas contra a pobreza/ miséria, contra a violência/discriminação e na defesa dos direitos civis. Isso significa dizer que eram todos religiosos convictos que sua religiosidade os levava a um profundo compromisso com a vida plena, aqui e agora. Também mostra que a luta contra as injustiças e mazelas sociais e a defesa dos direitos Humanos é sempre vista como uma coisa admirável, louvável e digna de ser lembrada como uma ação humana que se assenta nos corações e mentes das pessoas.
 Outra curiosidade é que nenhum político “tradicional” tenha feito parte da lista final. Será que não tiveram seus nomes propostos para análise? Ou apenas não deixaram “marcas” mais perenes aos olhos dos entrevistados?

Olhando para o resultado dos vilões a primeira coisa que chama a atenção é que George W. Bush foi considerado mais malvado que nada menos que Joseph Stálin. Será que o grande fantasma que assustava o mundo, desde os tempos do “Manifesto Comunista”, já não é mais tão assustador assim?
Outra questão sobre os “do mal”: A maioria é, ou foram, opositores do mundo de origem judaico/cristã/ocidental. A metodologia da pesquisa (os nomes propostos) pode ter alguma responsabilidade. Ou será apenas o resultado da visão de mundo que professamos e que se inculca como “verdade absoluta” em todos os quadrantes?
Outro dado que a matéria do CB traz deve ser considerado com atenção: das 40 figuras propostas para análise 16 são européias, 10 americanas ( de qual das Américas – norte, sul ou central?) 09 asiáticas e 04 muçulmanas.
Esse viés – de eurocentrismo ou norteamericanismo -  deve sempre ser levado em conta em qualquer análise. Como já o disse Michel Lowy, “os dados não estão dados. Os dados são construídos”.
 Portanto, ainda que a visão maniqueísta do jornal seja também empobrecedora do debate, a pesquisa traz elementos interessantes, ou talvez sejam mais interessantes os dados que ela deixa de mostrar, pois só conhecendo o que não é mostrado a primeira vista poderemos vislumbrar os reais heroísmos e vilanias da nossa história.



segunda-feira, 8 de junho de 2015

PAULO HENRIQUE AMORIM COM COMPLEXO DE VIRA-LATA?

Em seu blog, o conversa afiada, Paulo Henrique Amorim, conhecido jornalista da TV Record, postou ontem, 07.06.2015, o texto:  Neymar, 100% finório. Bem brasileirinho.

O texto é, de cabo a rabo, uma crítica a Neymar. Mas não é apenas isso. O texto é maldoso, desrespeitoso e até sectário. Parece até escrito por um “colonista”.

Começa dizendo: “Durante o jogo contra o Juventus, Barça 3 a 1, Neymar não fez quase nada. Quem deu o passe para o primeiro gol do excelente Rakitic foi o monstro do Iniesta !

Certamente quem deu o passe para o excelente Iniesta, quase na pequena área da Juve, deve ter sido algum espírito, quem sabe um... bispo.

Diz ainda que Neymar fez o terceiro gol do Barça “num passe do Pedro que até o Marin(ho) faria. Como tem sido os gols do Neymar ”. E ainda: “com os jogos definidos, recebe assistências com açúcar do Messi e do Suarez- esses sim, mestres inigualáveis.” Certamente os dois gênios de PHA, Messi e Suarez, quando fazem gols, não recebem passe de ninguém. Futebol é um esporte coletivo Paulo Henrique, sempre é preciso que alguém passe a bola ao companheiro.

Faz ainda críticas à atitude religiosa de Neymar, por colocar a faixa na cabeça com os dizeres “100% Jesus” e ficar ajoelhado em campo, com as mãos no rosto, aparentemente fazendo suas orações. Esse tipo de crítica me parece intolerância religiosa, típica dos reacionários. As biografias disponíveis na rede dizem que Neymar freqüenta com seus pais a Igreja Batista desde criança.

Será que a convivência numa emissora que é propriedade do líder da Igreja Universal  do Reino de Deus, conhecida por atos de intolerância com outras denominações religiosas está contagiando PHA? 

PHA também afirma que “Assim como o mensalão do PT, Neymar ainda está por provar-se, como jogador de futebol.” Aí PHA mistura alhos com bugalhos. A comparação é absurda, pois o dito “mensalão do PT” (o do PSDB já está prescrevendo) não se provou e não vai ser provado, pois não existiu. Enquanto Neymar, para despeito de PHA, prova a cada dia que é sim realidade como um grande jogador de futebol.

Acho que o PHA está propondo ao Neymar o estágio probatório mais longo de que já se teve notícia. Sei que isso vai tornar o texto um pouco mais longo que o ideal mas, à guisa de demonstração, vou trazer um pouco da carreira e títulos do Neymar da Silva Santos Junior.
Neymar estreou como profissional no Santos no dia 09.03.2009, no Pacaembu, pelo campeonato Paulista. Mas seu primeiro gol pelo profissional foi no dia 15.03.2009, contra o Mogi Mirim. Atenção para a data 15.03.2009, primeiro gol de Neymar pelo profissional. Anteontem, passados seis anos de sua estréia, Neymar, com 23 anos e três meses, já jogou 401 jogos, marcou 251 gols e ganhou 16 títulos.

Sabem quantos jogadores tem melhor marca nessa idade? Apenas dois: Pelé, com 466 jogos e 551 gols, e Ronaldo, com 342 jogos e 273 gols. Messi, na mesma idade tinha 339 jogos e 177 gols.

Na seleção brasileira Neymar já marcou 43 gols. Na seleção brasileira, aos 23 anos, Pelé tinha 41 gols, Zico ainda não tinha nenhum. Ronaldo Nazário tinha 29, Romário tinha 6 gols. É claro que isso não o torna “melhor” que os citados, todos fora de série, mas mostra que certamente se sua carreira não sofrer nenhuma ruptura, certamente será um dos maiores goleadores da amarelinha.

Algumas das conquistas de Neymar, jogando profissionalmente:
Vice-campeão Paulista 2009; Campeão da Copa do Brasil 2010; Campeão Paulista 2010; Vice-campeão Mundial de Clubes 2011; Campeão do Superclássico das Américas pela Seleção Brasileira; Campeão da Libertadores 2011; Bicampeão Paulista  2011; Campeão Sul-Americano Sub-20 pela Seleção Brasileira 2011; Bicampeão do Superclássico das Américas pela Seleção Brasileira; Campeão da Recopa Sul-Americana 2012; Tricampeão Paulista 2012; Campeão da Copa das Confederações 2013;  Vice-campeão Paulista 2013; Campeão do Troféu Joan Gamper 2014/2015; Tricampeão do Superclássico das Américas pela Seleção Brasileira; Vice-campeão Espanhol 2013/2014; Vice-campeão da Copa do Rei2013/2014; Campeão da Supercopa da Espanha 2013/2014; Campeão do Troféu Joan Gamper 2013/2014; Campeão Espanhol 2014/2015; Campeão da copa do Rei 2014/2015; Campeão UEFA champions League 2014/2015.

ARTILHARIA

Artilheiro da Copa do Brasil com 11 gols 2010; Prêmio Puskás - Gol mais bonito da temporada 2011; Vice-artilheiro da Libertadores com 6 gols 2011; Prêmio Ginga Esporte Interativo – Gol mais bonito 2011; Artilheiro do Sul-Americano Sub-20 com 9 gols  - 2011; Artilheiro do Paulista com 20 gols 2012; Chuteira de Bronze - Vice-artilheiro da Copa das Confederações com 4 gols; Vice-artilheiro do Paulista com 12 gols 2013.

ATENÇÃO PHA: em todos esses gols marcados, mesmo nos classificados como “mais bonito” das competições, Neymar não contou com a ajuda de Messi, nem de Suárez.

Aliás, ele já conquistou um lugar interessante nas estatísticas da liga dos campeões: marcou gols nos dois jogos de quartas de final, nos dois jogos das semifinais e também na final. Salvo melhor informação, nenhum outro jogador na história da Liga realizou tal feito. Isso significa que ele é um jogador decisivo para o seu clube.

Enfim, sob qualquer aspecto que se analise a carreira de Neymar ela já é hoje uma carreira das mais vitoriosas e prenhe de possibilidades, pois ele tem apenas 23 anos.

Que interesses movem as críticas infundadas, rançosas, quiçá invejosas, de PHA a Neymar?

Em tempo:
Acho Paulo Henrique Amorim um grande jornalista e leio diariamente os posts do seu CONVERSAAFIADA, e vou continuar lendo. Só espero que ele não descambe, em política e economia, para o sectarismo com que vem tratando Neymar.

Referências:
ESPN.com.br
Futebolemnumeros.blogosfera.uol.com.br
Esporteuol.com.br
wikipedia

segunda-feira, 27 de abril de 2015

SOBRE A INTOLERÂNCIA: O QUE A KISS SE FAZ A KISS SE PAGA

Na sexta-feira, 24.04.2015, aconteceu no espaço do estacionamento do estádio, o show da banda KISS – hard rock internacional. A imprensa anunciou a previsão de que 40.000 pessoas estariam no show. Em tempo, não fui ao show.

No dia 21.04.2015 o maestro Jorge Antunes publicou em seu feice um texto em que tece considerações sobre o show e sobre quem dele participa. Publicou inclusive um poema: “KISS EM BRASÍLIA“, segundo ele dedicados aos “40 mil babacas”, isto é, as pessoas que estariam no show.
O poema não me seduziu enquanto tal. O que me parece é que, quem cria um poema, suprema arte de dizer coisas que nos enchem a alma, ao invés de contrapor-se ao que tematiza em sua expressão artística, pode apenas estar “adorando pelo avesso”, como já o disse Chico Buarque, este sim bem mais versado em versos.
O que realmente me surpreende foi ver em alguém ligado a arte, especialmente à música que, segundo Kalil Gibran, “afina o espírito”, tamanho sectarismo.

E a surpresa não vem apenas do sectarismo partir de quem partiu, uma pessoa dedicada a arte, o que, aliás, o faz com competência e qualidade. E que já demonstrou seu compromisso com valores democráticos quando fez a “sinfonia das diretas”, fazendo do barulho das buzinas um grito por liberdade e democracia.

Ocorre que o sectarismo, especialmente nestes tempos de radicalismo e intolerância, anda solto por aí e espera apenas uma brecha para se manifestar. E isso pode ser visto já nos comentários feitos à publicação do maestro:

 “É triste ver um músico clássico atacar o rock and roll. Melhor seria se investisse contra a música de corno(sertanejo) ou a música de bandido(funk) que não nada acrescentam e que infestam a nossa cidade. Nota zero p/ seu arremedo de poema, maestro!”

É claro que o próprio Jorge Antunes repudiou esse sectarismo, mas ele mesmo iniciou a ciranda sectária com o seu comentário.

É sempre bom lembrar uma advertência de Pepeu Gomes, em sua legítima defesa do uso do baseado: “... o mal é o que sai da boca do homem”. Na verdade vos digo, essa advertência é mais antiga!  Pepeu, como todo bom menino, deve ter visto no catecismo a mesma advertência contida na bíblia, em Mateus 15:11: “ Não é o que entra pela boca o que torna o homem impuro, mas o que sai da boca, isto sim torna o homem impuro”. São palavras atribuídas a Jesus.

“É claro que, sem tomar a radicalidade bíblica como parâmetro, o que disse o maestro não o torna” impuro”, mas deixa claro que somos responsáveis pelo que dizemos, e publicamos... Na verdade, nunca podemos imaginar até quando e onde  vai a influência dos nossos atos e palavras.

Mas para que a discussão não tome o caráter religioso, quero lembrar uma sabedoria antiga, ouvida dos mais velhos desde a infância: “a esperteza, quando é demais, engole o esperto”.
Parodiando, e para finalizar, digo ao maestro:


 Cuidado amigo, pois o que a KISS se faz, a KISS se paga.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

O verbo que nos falta

Escrever é, como já o disse Drummond, lutar com a palavra. E o encantamento de ter um “blog”, onde posso dizer a minha palavra, quantas quiser, sobre o que me der na telha, logo se depara com essa luta, cotidiana, insana, contra a qual corro o risco de perder mais do que ganhar.
Apesar da luta não posso esquecer que a palavra talvez seja a principal diferença entre nós, homens/mulheres e os demais habitantes do planeta.
Num momento da vida do país, onde o ódio manifesta-se cotidianamente, especialmente na política, quero trazer à tona um texto de um político já falecido, Artur da Távola, senador pelo PSDB-RJ, que foi um dos críticos que sempre procurava, mais do que fazer juízo de valor sobre uma obra, mostrar a sua beleza, a importância que teve no momento de seu aparecimento, o contexto em que surgiu, o que trouxe de novo ao cenário artístico/cultural.
Vejam o texto:


Feliçar

(Arthur da Távola)
Sou eu que faço você sofrer?
Ou é você que sofre por minha causa?
Ou, ainda, é você que sofre por sua própria causa?
Chegar a essa pergunta (leva anos e anos) e é essencial na relação do amor.
A resposta demandará muito tempo, sofrimento e, em cada caso, será diferente. Mas, se encontrada, melhorará qualquer relação. Ou constatará o seu término.
Proponho, como exercício, uma atitude de troca. Onde se lê sofrer, leia-se feliçar (eu feliço, tu feliças, ele feliça, nós feliçamos, vós feliçais, eles feliçam).
Por que felicidade não tem verbo?
A pergunta então ficaria: Sou eu que faço você feliz, ou é você que feliça por minha causa?
Curiosa e masoquista a vida. O verbo sofrer é complicado.
Feliçar é simples. Por que a gente prefere conjugar o sofrer? 

O texto me parece oportuno pois hoje, se abrirmos os jornais ou ligarmos a TV, só vemos  tregédias, sejam reais ou imaginadas/ desejadas por alguns.

Especialmente para os que têm dificuldade de aceitar as realidades da vida (o resultado da última eleição presidencial, por exemplo) leiam e pensem!

Será que não podemos “feliçar” mais do que sofrer?

 Afinal, o “ser desejante” da psicanálise só quer ser feliz.

sábado, 4 de abril de 2015

TEORIA DA CONSPIRAÇÃO E POLITICA INTERNACIONAL

Segundo a Wikipédia “ Teoria da conspiração é qualquer teoria que explica um evento histórico ou atual como sendo resultado de um plano secreto levado a efeito geralmente por conspiradores maquiavélicos e poderosos, tais como uma "sociedade secreta" ou "governo sombra".
O blog do Rodrigo Viana publicou, em 12.03.2015, o texto “Os meninos do golpe no dia 15: quem banca essa turma?”.
O texto revela o envolvimento, na convocação do ato de protesto contra o governo no dia 15.03.2015, do grupo “Movimento Brasil Livre”, uma organização virtual que, segundo o The Economist, foi fundada no “último ano para promover as respostas do mercado livre para os problemas do país”. A folha de São Paulo informa que é organizado, tem coordenadores nos estados, tem página na internet. Além do MBL outra entidade virtual que trabalha no mesmo sentido é a rede “Estudantes pela Liberdade”, uma Oscip que é a filial brasileira do “Students for Libert”,
Há pouco tempo atrás qualquer denúncia dessa natureza, sobre as tentativas de ingerência norte americanas em outros países, eram desacreditadas e rotuladas de “teoria da conspiração”, uma vez que não se encontravam provas, evidências do era afirmado.  Eram ridicularizadas e creditadas  a uma desconfiança juvenil  das autoridades  e a uma imaginação fértil.
Em entrevista publicada na página da liderança do PT na Câmara federal, em 17.03.2015, “O cientista político e historiador Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira denunciou hoje (17) que os Estados Unidos, por meio de órgãos como CIA, NSA (Agência Nacional de Segurança) e ONGs a eles vinculadas, continuam na tentativa de desestabilizar governos de esquerda e progressista da América Latina, como os da Venezuela, Argentina e Brasil.”.
Ainda segundo a entrevista, Moniz Bandeira afirmou que ‘’evidentemente há atores, profissionais muito bem pagos, que atuam tanto na Venezuela, Argentina e Brasil, integrantes ou não de ONGs, a serviço da USAID, National Endowment for Democracy (NED) e outras entidades americanas”, para desestabilizar esses países, com a utilização de instrumentos que incluem protestos de rua. ‘’As demonstrações de 2013 e as últimas, contra a eleição da presidente Dilma Rousseff, não foram evidentemente espontâneas”, disse o cientista político. “Os atores, com o suporte externo, fomentam e encorajam a aguda luta de classe no Brasil, intensificada desde que um líder sindical, Lula, foi eleito presidente da República.”
 Moniz Bandeira, brasileiro que reside na Alemanha, historiador e cientista político, é autor de vários livros sobre as relações Brasil—EUA.
Em 2005, quando lançou seu livro “formação do Império Americano”, Moniz Bandeira já denunciava que as práticas de espionagem das agências de inteligência dos EUA vinham desde os fins dos anos 60, dentro da estratégia da “ full spectrum dominance ( dominação de espectro total). Em seu novo livro “ A Segunda Guerra Fria – Geopolítica e dimensão estratégica dos Estados Unidos- Das rebeliões na Eurásia à África do Norte e oriente Médio(2014), Moniz defende a tese de que os EUA continuam a implementar a estratégia da ‘full spectrum dominance”.
Em matéria assinada pelo Jornalista Celso Lungaretti, em 03.04.2015, ele afirma que “ há dois meses, The new York times confirmou que, como era de esperar, a Dilma continuava na lista dos dirigentes espionáveis.”
Essas afirmações todas mostram que, a diferença do que antes se classificava como teoria da conspiração, hoje, depois das denúncias de Edward Snowden/Glenn Grennwald não podemos mais continuar tentando nos enganar de que isso “não acontece”.
A atuação internacional do Brasil, especialmente após o governo Lula, a ênfase nas relações sul-sul, em âmbito bilateral, regional e multilateral, a criação do BRICS, a descoberta do pré-sal, que coloca o Brasil no mapa geopolítico do petróleo e dá a PETROBRAS papel estratégico com a  mudança na estratégia de exploração de recursos ( mudança de concessão para partilha) , a recente criação do Banco dos BRICS, bem como a adesão ao novo banco da China, são ações que demonstram que o Brasil quer sim exercer, com soberania e independência, um novo papel no cenário internacional, o que nos coloca em rota de colisão com o projeto imperial  de dimensões planetárias norte-americano e nos torna, portanto, a alvo de espionagem e ações de desestabilização.
É importante notar a estratégia de intervenção não é mais, ao menos preferencialmente, a intervenção armada direta. Hoje ela se reveste de maior sutileza.
 O deputado federal do PT, Sibá Machado comentou nas redes sociais que a CIA tem atuado nas tentativas de desestabilização de governos democrático na America Latina.
Se observarmos que, como informa Moniz bandeira, que na Ucrânia, entre 1989 e 2000 foram criadas mais de 5000 ONGs, vemos que os EUA empregam esforços de todas as suas agências, governamentais ou não, (CIA, USAID, NED (National Endowment for Democracy), OFS (Open society foundation), IRI (International republican Institute) Students for Liberty) para imiscuir-se na vida dos países e abalar sua estabilidade.
Portanto, mesmo que certas ameaças pareçam remotas, ou absurdas, é bom estarmos atentos e mobilizados na defesa dos nossos interesses.  Não podemos esquecer que nosso país, desde sempre, foi alvo da cobiça de estrangeiros. E também estarmos atentos para os que, mesmo sendo brasileiros, (políticos, empresários, meios de comunicação...) defendem interesses alheios as nossas necessidades.




sábado, 14 de março de 2015

O combate à corrupção e a luta de classes

Em excelente texto publicado na cartamaior.com.br, em 12/03/2015, Márcio Pochmann demonstrou com dados sua estranheza diante do acirramento político no país, a medida que, no período Lula/Dilma, passou-se do “ganha-perde ao ganha-ganha”, tanto para as classes baixas, como para as médias e altas. Isto é, ao longo dos governos populares todos os segmentos obtiveram aumentos reais anuais.
Ainda segundo o texto de Márcio P., os 50% pobres da população aumentaram, a cada ano, em média 5,81 do seu poder aquisitivo, o segmento social intermediário em 5,2% ao ano e os ricos subiram 4,1% como média anual entre 2003 – 2013.
A partir dos números apresentados por Márcio P. cabe a pergunta: se não há motivos econômicos para o acirramento político, qual a sua real motivação?
Márcio arrisca uma resposta no final do seu texto. Como os mais ricos sempre foram acostumados nesse país a ganhar mais, a velocidade com que os 50% mais pobres estão ganhando criou “desconforto político” nas classes médias e ricas.
Sem discordar do Márcio, penso que, além disso, essa polarização demonstra outras questões!
Também na Carta Maior, em excelente artigo do professor Róber Iturriet Ávila – Ódio ao PT – ele informa que “na história do Brasil, sempre que o salário mínimo e a renda média subiram, houve algum tipo de intento golpista”. Portanto o problema da elite não é com a corrupção, mas sim impedir o acesso dos mais pobres a um meio de vida mais digno.
Desde Vargas isso é patente. Tanto que, no ano do seu suicídio, ele aumentou o salário mínimo em 100%. Além disso, já havia feito inúmeras realizações (CLT, Carteira de Trabalho, Férias Remuneradas, Salário Mínimo, criação de institutos de aposentadoria e pensões).
Também João Goulart, que era Ministro do Trabalho de Vargas, foi deposto pelo golpe civil-militar de 1964 – além dos aumentos salariais acenava aos pobres com as “Reformas de Base”: Reforma Urbana, Reforma Agrária, justiça social...
Resumindo, Getúlio Vargas e João Goulart caíram quando proporcionavam aos mais pobres  políticas de elevação de renda e reconhecimento/concessão de inúmeros direitos sociais.
O bordão das elites era contra a corrupção e contra a infiltração comunista.
Hoje não é diferente. Ainda que o bordão seja, de novo “contra a corrupção”, na verdade desde Lula, e continuando com Dilma, os ganhos do salário mínimo são contínuos e há uma série de programas sociais voltados aos mais desfavorecidos.
E o ódio da elite se manifesta de novo.
O Bolsa Família gerou polêmica – um programa que concede renda mínima necessária para superar a miséria extrema.
Portanto podemos ver com clareza que toda a cantilena contra a corrupção não passa de um biombo para encobrir a verdadeira natureza do conflito: a luta de classes em seu estado mais brutal, como sempre fizeram as elites no capitalismo.
Aliás, aos que não se deixaram seduzir pelo “fim da história” um exemplo que é bastante esclarecedor sobre a atualidade do conceito “luta de classes”: nas discussões sobre a reforma trabalhista, ainda no primeiro governo Lula, o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, ao se posicionar sobre a reivindicação das centrais sindicais sobre os sindicatos poderem se colocar como substitutos processuais em relação ao conjunto de trabalhadores de sua base, foi claro ao afirmar “não podemos dar esse poder aos sindicatos”.
 A elite brasileira tem claro que a luta de classes existe e a pratica todos os dias.

Alvino Lemos – 13.03.2015

domingo, 1 de março de 2015

Sobre Lixeiras e Latrinas: as assimetrias do judiciário brasileiro

Já está nas redes sociais, mas eu vi primeiro no jornal “Metro”: “Ex-reitor Timothy Mulholand é demitido por escândalo da lixeira”.
Ainda que carregada de um  certo sensacionalismo a manchete é verdadeira.
Cabe a ressalva que na verdade o afastamento se dá em virtude de investigações da CGU (controladoria Geral da União) que apontou “possíveis irregularidades“ em convênios assinados pela UnB entre 2005 e 2008.
Caso seja confirmada a demissão, punição pesada,  pois causa a perda da aposentadoria e o impede de assumir cargos públicos por cinco anos,  será um caso pouco comum na nossa justiça.
Na verdade as denúncias contra o ex-reitor geraram uma grave crise na universidade em 2008, os alunos ocuparam a reitoria por vários dias. A questão veio a tona quando se descobriu que a lixeira que foi comprada para o apartamento funcional então ocupado pelo reitor custou entre R$ 900,00 a 1.000,00.
Que bom que os mecanismos de punição a todos (as) que pratiquem atos delituosos estejam em funcionamento.  Que essa seja uma ação constante dos poderes constituídos e que funcionem para todos, em todos os quadrantes.
Como nem tudo é perfeito, é oportuno lembrar, logo após assumir a presidência do STF o então presidente Joaquim Barbosa reformou os banheiros do apartamento funcional pela bagatela de R$ 90.000,00 (NOVENTA MIL REAIS).
Como o distinto presidente era o herói do julgamento da AP 470 nem a mídia, nem nenhum outro órgão do judiciário ou do MPF tomou qualquer providência.  Então temos um apartamento funcional que tem um banheiro tão ou mais caro que uma residência do Minha Casa Minha Vida.
Isso só prova que nessa  pindorama nossa de cada dia, mudam as moscas, mas as lixeiras, e as latrinas são as mesmas, ou dos mesmos.

                                               Alvino Lemos, em 27/02/2015

domingo, 25 de janeiro de 2015

Por que criar um blog?

Criar um blog é um desafio. Poder emitir minha opinião, a cada dia, todos os dias, é desafio que me anima. Numa era em que o avanço tecnológico, e também a condição de acesso, permitem que qualquer pessoa possa publicar sua opinião, quero poder expressar minhas opiniões/convicções com clareza, coragem e responsabilidade. Sem aderir a polêmicas fáceis, mas sem fugir daquelas necessárias. Como afirma Domenico De Masi, tudo aquilo que o meu cérebro produz é fruto também do que é produzido pelo “cérebro dos meus colaboradores e dos meus amigos, é constituído pelos meus livros e pelos livros deles, pelo meu computador e pelos deles, é formado pelo meu... celular... pela internet a qual me conecto.” Enfim, tudo o que crio e/ou escrevo, não é criado apenas por mim, por minha genialidade ou capacidade criativa. São frutos, na verdade, dessa extensa e inumerável “coleta” de informações. Os meus textos são, na verdade, “editados” por mim. É claro que sou inteiramente responsável por eles. Enfim, como nos ensinou o grande mestre Paulo Freire, quero poder dizer a minha palavra.


ALVINO LEMOS