quarta-feira, 8 de abril de 2015

O verbo que nos falta

Escrever é, como já o disse Drummond, lutar com a palavra. E o encantamento de ter um “blog”, onde posso dizer a minha palavra, quantas quiser, sobre o que me der na telha, logo se depara com essa luta, cotidiana, insana, contra a qual corro o risco de perder mais do que ganhar.
Apesar da luta não posso esquecer que a palavra talvez seja a principal diferença entre nós, homens/mulheres e os demais habitantes do planeta.
Num momento da vida do país, onde o ódio manifesta-se cotidianamente, especialmente na política, quero trazer à tona um texto de um político já falecido, Artur da Távola, senador pelo PSDB-RJ, que foi um dos críticos que sempre procurava, mais do que fazer juízo de valor sobre uma obra, mostrar a sua beleza, a importância que teve no momento de seu aparecimento, o contexto em que surgiu, o que trouxe de novo ao cenário artístico/cultural.
Vejam o texto:


Feliçar

(Arthur da Távola)
Sou eu que faço você sofrer?
Ou é você que sofre por minha causa?
Ou, ainda, é você que sofre por sua própria causa?
Chegar a essa pergunta (leva anos e anos) e é essencial na relação do amor.
A resposta demandará muito tempo, sofrimento e, em cada caso, será diferente. Mas, se encontrada, melhorará qualquer relação. Ou constatará o seu término.
Proponho, como exercício, uma atitude de troca. Onde se lê sofrer, leia-se feliçar (eu feliço, tu feliças, ele feliça, nós feliçamos, vós feliçais, eles feliçam).
Por que felicidade não tem verbo?
A pergunta então ficaria: Sou eu que faço você feliz, ou é você que feliça por minha causa?
Curiosa e masoquista a vida. O verbo sofrer é complicado.
Feliçar é simples. Por que a gente prefere conjugar o sofrer? 

O texto me parece oportuno pois hoje, se abrirmos os jornais ou ligarmos a TV, só vemos  tregédias, sejam reais ou imaginadas/ desejadas por alguns.

Especialmente para os que têm dificuldade de aceitar as realidades da vida (o resultado da última eleição presidencial, por exemplo) leiam e pensem!

Será que não podemos “feliçar” mais do que sofrer?

 Afinal, o “ser desejante” da psicanálise só quer ser feliz.

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