Em excelente texto publicado na
cartamaior.com.br, em 12/03/2015, Márcio Pochmann demonstrou com dados sua estranheza
diante do acirramento político no país, a medida que, no período Lula/Dilma, passou-se
do “ganha-perde ao ganha-ganha”, tanto para as classes baixas, como para as médias
e altas. Isto é, ao longo dos governos populares todos os segmentos obtiveram
aumentos reais anuais.
Ainda segundo o texto de Márcio P.,
os 50% pobres da população aumentaram, a cada ano, em média 5,81 do seu poder
aquisitivo, o segmento social intermediário em 5,2% ao ano e os ricos subiram 4,1%
como média anual entre 2003 – 2013.
A partir dos números apresentados
por Márcio P. cabe a pergunta: se não há motivos econômicos para o acirramento
político, qual a sua real motivação?
Márcio arrisca uma resposta no
final do seu texto. Como os mais ricos sempre foram acostumados nesse país a
ganhar mais, a velocidade com que os 50% mais pobres estão ganhando criou “desconforto
político” nas classes médias e ricas.
Sem discordar do Márcio, penso
que, além disso, essa polarização demonstra outras questões!
Também na Carta Maior, em
excelente artigo do professor Róber Iturriet Ávila – Ódio ao PT – ele informa
que “na história do Brasil, sempre que o salário mínimo e a renda média
subiram, houve algum tipo de intento golpista”. Portanto o problema da elite
não é com a corrupção, mas sim impedir o acesso dos mais pobres a um meio de
vida mais digno.
Desde Vargas isso é patente.
Tanto que, no ano do seu suicídio, ele aumentou o salário mínimo em 100%. Além
disso, já havia feito inúmeras realizações (CLT, Carteira de Trabalho, Férias Remuneradas,
Salário Mínimo, criação de institutos de aposentadoria e pensões).
Também João Goulart, que era Ministro
do Trabalho de Vargas, foi deposto pelo golpe civil-militar de 1964 – além dos
aumentos salariais acenava aos pobres com as “Reformas de Base”: Reforma Urbana,
Reforma Agrária, justiça social...
Resumindo, Getúlio Vargas e João
Goulart caíram quando proporcionavam aos mais pobres políticas de elevação de renda e
reconhecimento/concessão de inúmeros direitos sociais.
O bordão das elites era contra a
corrupção e contra a infiltração comunista.
Hoje não é diferente. Ainda que o
bordão seja, de novo “contra a corrupção”, na verdade desde Lula, e continuando
com Dilma, os ganhos do salário mínimo são contínuos e há uma série de
programas sociais voltados aos mais desfavorecidos.
E o ódio da elite se manifesta de
novo.
O Bolsa Família gerou polêmica –
um programa que concede renda mínima necessária para superar a miséria extrema.
Portanto podemos ver com clareza
que toda a cantilena contra a corrupção não passa de um biombo para encobrir a
verdadeira natureza do conflito: a luta de classes em seu estado mais brutal,
como sempre fizeram as elites no capitalismo.
Aliás, aos que não se deixaram
seduzir pelo “fim da história” um exemplo que é bastante esclarecedor sobre a
atualidade do conceito “luta de classes”: nas discussões sobre a reforma
trabalhista, ainda no primeiro governo Lula, o empresário Jorge Gerdau Johannpeter,
ao se posicionar sobre a reivindicação das centrais sindicais sobre os
sindicatos poderem se colocar como substitutos processuais em relação ao
conjunto de trabalhadores de sua base, foi claro ao afirmar “não podemos dar
esse poder aos sindicatos”.
A elite brasileira tem claro que a luta de
classes existe e a pratica todos os dias.
Alvino Lemos – 13.03.2015